domingo, 1 de agosto de 2010

Escrever não é algo que eu faço com facilidade, tampouco com regularidade. Tenho uma grande dificuldade de trocar em miúdos verbais uma ideia qualquer que me ocorre, preferindo, na maioria das vezes, o mutismo e o refúgio confortável do silêncio a um imbróglio de barreiras linguísticas intransponíveis por minha racionalidade claudicante. É quase exatamente como desconhecer o idioma em que se expressa seu próprio pensamento.
Eu poderia seguir nesta ignorância (que apesar de infringir um desconforto bastante considerável, já me ensinou a conviver com suas limitações), mas tenho sido instigado e estimulado a penetrar o emaranhado incógnito que é a minha própria linguagem. Não, não me refiro a escrever posts num blog. Minha antiga página, "Sujeito", já havia me dado oportunidades suficientes para exercitar experimentações do que para mim era, então, novo: transcrever subjetivamente qualquer entulho recolhido de meus rincões emocionais e imaginativos. Retire-se, entretanto, o peso pejorativo da palavra "entulho", e aí estaremos no sentido pretendido pelo antigo blog. Algo bem parecido com o texto de abertura desta nova página, escrito recentemente, mas na mesma premissa de antes, ilustrando a inexistência de limites temporais didáticos, isso deixamos a cargo dos relógios e calendários, ainda que, por muito que julguemos que conheçam do tempo, na verdade, nada saibam. Pois bem, o que quero dizer é que o contato que começo a ter com um tipo de conhecimento que até então apenas contemplava à distância, que é a filosofia da mente e da psicologia, parece sinalizar, ainda que com a timidez típica dos iniciantes, o caminho correto para o auto-conhecimento e o início do afrouxamento das amarras da minha própria linguagem. A psiquiatria ocupa-se do desajuste do sujeito ao seu meio, e é bem provável que nada poderá fazer por alguém se não houver esforços para que compreenda como seus próprios mecanismos se dão. "Torna-te quem tu és", e esta exortação exige uma verdade tão mais complexa quanto mais parecer óbvia ou simplória.
Esta não é uma intenção, e menos ainda é uma promessa de periodicidade de textos. Eu ainda caminho na contra mão desses pragmatismos, e nem ando no meu momento de maior criatividade, como talvez seria de se esperar de alguém que tem vivido uma experiência como a minha. As coisas na verdade continuam bem parecidas com o que sempre foram, e talvez sejamos nós os obcecados por mudanças contínuas, isso que chamamos de coisas, na verdade não mudam por si só, porque são simplesmente nossas vivências e abstrações sobre as pessoas e os acontecimentos.
Deixemos então de labirintos verbais que não nos levam a muito mais do que à confusão. O objetivo é o aprendizado, então partamos em direção a ele. Se o fim justifica os meios, isso só saberemos quando (ou se) chegarmos lá.